sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resenha de O Caminho das Nuvens

Cartaz do filme O Caminho das Nuvens
O nordeste do país é um tema muito explorado no cinema brasileiro. Vários filmes já retrataram a vida sofrida do nordestino, suas lutas e sua busca por uma vida melhor, muitas vezes por meio da migração para o sudeste do Brasil. A temática é, na maioria das vezes, retratada de forma pesada. A forma encontrada pelo diretor Vicente Amorim para relatá-la de modo mais leve foi transformar o filme em um road movie.  Inspirado na história real de um caminhoneiro desempregado que foi de bicicleta da Paraíba ao Rio de Janeiro com a mulher e os cinco filhos, O Caminho das Nuvens já começa na estrada. Na cena inicial, Rose lê para o marido, Romão, analfabeto, uma placa que diz “Praça do Meio do Mundo”. Mas a jornada deles não começou ali. Na cena seguinte, o filho mais novo do casal, ainda um bebê de colo – que, durante todo o filme, passeia pelo colo dos pais e dos irmãos – esquecido no meio da estrada, é quase atropelado por um caminhão. Na conversa com o caminhoneiro, o patriarca descobre que ele vem do Rio de Janeiro e talvez ali Romão tenha decidido o destino de sua viagem.
 
A religiosidade extremamente presente na vida do brasileiro, além da necessidade de conseguir um emprego que lhe pague mil reais, é o que norteia Romão em sua jornada. Antes de seguir para o Rio de Janeiro, o pai de família resolve ir a Juazeiro do Norte fazer uma visita à estátua de Padre Cícero. Romão carrega no nome sua fé cega pelo Padre, que é também aludida no nome do filho mais novo, Cícero. Romão acredita que seu “Padim” é a solução de todos os seus problemas, e isso é o que o dá forças para levantar a antiga mesa de Padre Cícero, que, segundo a crença popular, só pode ser erguida por aqueles livres de pecado. Sua religiosidade, porém, não é compartilhada na mesma intensidade pelo restante da família, principalmente por Antônio, o filho mais velho. Essa religiosidade exagerada é um dos motivos de divergência entre o pai e Antônio, que não consegue entender as razões do pai e o que os obriga a percorrer a jornada de bicicleta. Em uma passagem do filme, essa diferença entre eles fica muito clara. Após não conseguir ajuda de ninguém em Juazeiro, Romão diz a Rose que “quem dá aos pobres empresta a Deus”. Antônio então rebate com “E Deus, paga quando?”.
  
Romão e Rose, os protagonistas, na cena inicial do filme.


Na passagem da família por São Bento, o desconforto de Romão e seu tradicionalismo, no que diz respeito a quem deve sustentar a família, são deixados à mostra. Amparados por um vereador da cidade e por sua mulher, enquanto Rose começa a trabalhar tecendo redes, Romão consegue apenas promessas de emprego como caminhoneiro. Ele, então, resolve partir novamente em busca do tão sonhado trabalho que pague mil reais. Ao ouvir a sugestão de Jurema, a esposa do vereador, de que a família seja sustentada pelo dinheiro ganho por Rose até que apareça um serviço para Romão, ele responde: “A senhora me desculpe, mas isso não pode ser assim não”, deixando claro seu tradicionalismo patriarcal e seu desconforto com a incapacidade de conseguir o emprego que o permita sustentar os filhos e a esposa.
  

A trilha sonora de O Caminho das Nuvens é baseada nas músicas de Roberto Carlos, a quem o filme é dedicado. As músicas do cantor acompanham a família durante toda a jornada. A cantoria é sempre iniciada por Clévis, um dos filhos, e acompanhada pelos outros familiares. O garoto também acompanha, tocando violão, enquanto a mãe canta e arrecada dinheiro. As canções do Rei servem ainda como plano de fundo para que percebamos o amor de Rose e Romão. Em uma das cenas, ela canta para clientes de um restaurante, mas parece direcionar alguns dos versos da música para ele.
  
Ao longo do filme, acompanhamos ainda o amadurecimento de Antônio e os dilemas vividos por ele, suas várias tentativas frustradas de fumar um cigarro, suas contestações às escolhas do pai, que sempre repete que o filho não é um homem – embora o menino aproveite cada oportunidade para dizer que é, sim, um homem – e que, na idade dele, já ganhava dinheiro e tinha uma mulher.  Vemos sua tentativa de acabar com o sofrimento da família, comprando passagens para o Rio com dinheiro roubado – passagens que o pai rasga –, sua relação com Rodney, o irmão sonâmbulo. Presenciamos sua primeira desilusão amorosa, com uma moça vestida de Sereia, em Porto Seguro, no “parque temático” Caminho das Nuvens, onde o pai e os irmãos mais novos conseguiram um emprego como falsos índios e onde Antônio flagrou o pai numa postura ridícula. O garoto resolve ficar na cidade e não seguir viagem com os pais. Embora Rose diga que Antônio “não é dono da própria vida”, Romão percebe, nesse momento, que um pai não é o dono da vida do filho e que é preciso dar a ele liberdade para que decida seu destino. Após a decepção amorosa com a Sereia, porém, o menino segue o mesmo caminho dos pais e acaba reencontrando a família no Espírito Santo, onde permanece trabalhando numa construção civil, emprego arranjado pelo pai. Ao se despedir do filho, Romão, finalmente, lhe entrega um cigarro, como se reconhecesse que o filho tornou-se um homem, e diz que o próximo ele comprará com o próprio salário.
 
Ao chegar ao Rio, a família continua usando as músicas do Rei como fonte de sustento, complementando a renda vendendo bugigangas no Cristo Redentor. Percebe-se, porém, que Romão é um “homem da estrada”, como ele já tinha dito a Severino e Jurema, em São Bento, e que quer logo começar uma nova jornada, dessa vez para Brasília. Seu ímpeto é logo cortado pela mulher. A música de Roberto Carlos também é o elo entre a família no Rio e o filho que ficou no Espírito Santo. Rodney e Antônio, mesmo distantes, assistem ao mesmo show do cantor que embalou sua jornada. Nesse ponto do filme, também é ainda mais perceptível a importância que a viagem teve na vida de Antônio, que se recusa a vender sua bicicleta, lembrança que tem da família, para um colega de trabalho.
  
Rodney e Antônio, dois dos cinco filhos do casal.
Vários dos fatores apresentados acima, como a religiosidade e a crise da autoridade paterna, segundo artigo apresentado por Antônio da Silva Câmara, Doutor em Sociologia, permitem que a modernidade supere a tradição e que a fé que guia Romão enfraqueça durante a viagem. De acordo com Câmara, as temáticas que tipicamente retratam o Nordeste do país não ganham vez em O Caminho das Nuvens. A fome e a pobreza relacionadas ao trabalho do homem no campo não são relatadas no filme, e a maioria das agruras sofridas pelos personagens durante sua jornada poderia ter sido evitada, se não houvesse tanta insistência em viajar até o Rio de Janeiro. O filme representaria, portanto, a fuga de todas as regiões, já que o sofrimento pelo qual a família passa não é causado por fatores que seriam tipicamente nordestinos, e sim por dificuldades ao longo da própria viagem.
 
Por ser, basicamente, um road movie, há várias passagens da família de bicicleta na estrada. O filme é iniciado com uma tomada acima das nuvens e finalizado com uma vista panorâmica do Rio de Janeiro, que também termina acima das nuvens.  Em alguns momentos, quando a mãe e os filhos cantam Roberto Carlos, percebemos o pai, em plano de fundo, olhando para a esposa. Vicente Amorim promove muitos focos que nos permitem ler a expressão dos atores.

 A obra, com roteiro original de David França Mendes, é fruto de uma viagem de pesquisa que também gerou 2000 Nordestes, um documentário do mesmo diretor. Foi filmado em oito semanas em Juazeiro do Norte e nas cidades de Porto Seguro e do Rio de Janeiro. O Caminho das Nuvens foi o primeiro filme brasileiro produzido pela Miravista, empresa criada pela Buena Vista International para co-produzir filmes na América Latina. Foi ainda o oitavo filme produzido pela Filmes do Equador após a retomada do cinema brasileiro.



Fontes consultadas
http://oolhodahistoria.org/artigos/IMAGEM-o%20caminho%20das%20nuvens%20antonio%20camara-alunos.pdf
http://www.autoresdecinema.com.br/arquivos/ocaminhodasnuvens.pdf
http://www.filmeb.com.br/quemequem/html/QEQ_profissional.php?get_cd_profissional=PE484
http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/caminho-das-nuvens/caminho-das-nuvens.asp

7 comentários:

  1. RAFAEL PEREIRA MAIA ESTEVE AQUI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    MOSSORO - RN

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. bando de incompetentes vcs em se fossem vc teria serteza q ele nn estaria escrevendo essas .... resumindo coisas q nem tem nome se fosse vcs entao entao foda-se vc e toma no seu cu pra nn fude os dos outros e deixar de cuidadr da vida dos outros e começar a cuidar da sua vidinha de merda

      Excluir
  2. muito bom dedicação e persistência em dar uma vida melhor para sua familia

    ResponderExcluir
  3. esse filme é muito ruim, principalmente as cenas do filho mais velho e o final. Na minha opinião nao é um filme que eu assistiria denovo

    ResponderExcluir