quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A mais nova fragrância do desrespeito


Na semana passada, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) pediu que a marca Axe, da Unilever, alterasse uma peça publicitária veiculada na fanpage no Facebook. O porquê da chamada? Linguagens visual e verbal ofensivas às mulheres.

Veiculada especificamente em versão brasileira, a peça caiu na rede no dia 1º de agosto e pretende promover as duas novas versões de desodorante, a prata e a preta. O anúncio mostra dezenas de mulheres sensuais usando lingerie, deitadas em várias posições, ao redor de um homem que faz cara de satisfeito. A falta de tato se completa com a frase de efeito: “Misture-os e acumule mulheres”.

Em nota de defesa ao Conar, a marca argumenta que a imagem não é inapropriada para a faixa etária permitida para uso do Facebook – isto é, acima de 18 anos – e os anúncios desenvolvidos para promover o novo produto têm uma linguagem jovial e bem-humorada.

Acumular mulheres como quem coleciona figurinhas? Pelo visto, a equipe publicitária da Axe anda vendo bom-humor demais onde, na verdade, existe uma lacuna abissal a ser preenchida com respeito. E, se a parte do “jovial” está contida na ideia de que todas as “gatas” vão “cair na sua rede”, assim tão fácil, é porque realmente não há limites quando o assunto é subestimar a inteligência do consumidor.

Não é a primeira vez que anúncios da Axe tratam mulheres como pares de seios colecionáveis. Pedir pela alteração dessa peça específica é uma atitude correta e emergencial, mas, convenhamos, também é paliativa. O que precisamos é de leis que regulamentem campanhas publicitárias. Só assim se pode frear a livre concorrência de empresas que, em pleno século vinte e um, insistem em acumular machismo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Menos falsos padrões, Mais Mulher Gato

A versão original e a versão atual da CatWoman Zero

No dia 09 deste mês, a DC Comics, grande editora norte-americana de histórias em quadrinhos, anunciou que a ilustração de capa original da HQ Catwoman Zero passaria por “sutis modificações”, devido à polêmica causada pelo conteúdo extremamente sexy.

A primeira versão da arte mostra Selina Kyle – a Mulher Gato – numa posição anatomicamente impossível, de modo que os seios seminus e as nádegas “emplastificadas” não se deixem ignorar. A Guillem March, o autor da “façanha”, foram solicitadas as devidas alterações. Na nova versão – ainda sensual, mas não mais pateticamente apelativa – fecharam o zíper acima dos seios da personagem. Além disso, ela agora aparece de joelhos, e não daquele jeito estranho, tipo Mulher Elástica.

A reformulação não agradou a todo mundo. Para alguns fãs de quadrinhos, tratou-se de censura. Censura? Ou será que reelaborar com mais responsabilidade e bom senso alguns detalhes da arte-matriz é algo digno e legítimo? Será que vale a pena continuar estrunchando personagens femininas em nome da continuidade do estereótipo construído para agradar a olhos e pélvis masculinos-heterossexuais?

A “armadura desprotetora” e as curvas superdefinidas continuam disfarçadas de “traços da personagem”. E muitas das mulheres voadoras, superpoderosas e exterminadoras do mal ou do bem, nos quadrinhos, continuam injetadas de padrões fictícios, que insultam a personalidade e a beleza multiforme das mulheres que vão até a banca de revistas adquirir uma HQ.

A nova Mulher Gato da capa não chega a ser um referencial anti-machista na cultura pop. Mas a atitude da DC Comics de reformular detalhes grotescos e ofensivos é, no mínimo, animadora.

sábado, 19 de maio de 2012

Resenha do filme "Sentidos do Amor"


Escrevi a resenha como exercício para a disciplina Jornalismo Impresso II, ministrada pelo professor Ronaldo Salgado.

Sentidos do Amor vai além do “drama-casalzinho”
Beatriz Costa Ribeiro

As sutilezas intimistas do drama romântico e a universalização agressiva da ficção científica. Em Sentidos do Amor (Perfect Sense, 2011, BBC Films/Zentropa Entertainments/Sigma Films, 92 minutos), a variedade de gêneros dialoga e se entrelaça. O filme, do diretor escocês David MacKenzie, estreou no dia 07 de outubro em apenas 59 salas de cinema do Reino Unido. A proposta audaciosa, premiada no 2011 Sundance Film Festival, atiçou a curiosidade do público, arrecadando mais de 21 mil euros no fim de semana em que foi lançado.

Sentidos do Amor conta a história de duas pessoas de personalidades muito diferentes que se apaixonam durante um episódio em que, nos quatro cantos da Terra, uma misteriosa epidemia vai se espalhando. No começo, as pessoas têm uma repentina crise de angústia, seguida da perda do olfato. Depois, um surto de desespero e uma fome descabida introduzem a perda de mais um sentido: o paladar. Num momento de fúria, as pessoas perdem, então, a audição. Por fim, com o cenário mundial devastado, o último surto psicológico mergulha as pessoas num sentimento de paz, perdão, amor, e então elas perdem a visão. É nesse contexto que a cética epidemiologista Susan (Eva Green) e o chefe de cozinha bon vivant Michael (Ewan McGregor) aprendem, juntos, a se compartilhar e a lidar com a luta diária pela continuidade da vida.

O drama transbordante e o amor romântico com passagens de erotismo nos transportam para uma obra anterior do mesmo diretor, Pecados Ardentes (Young Adam, 2003). Ewan McGregor, que interpreta o personagem central em ambos os filmes, mantém a facilidade de transmitir o desespero contido e a confusão, abusando de cenhos franzidos e lábios crispados. Em Sentidos do Amor, o ator encarna o personagem com maestria e “vive” cada momento de amor, desespero, raiva, conformismo, tudo em medidas certas de exageros e contenções expressivas. Eva Green se permite lançar alguns belos sorrisos e muitos olhares cortantes, o que a enquadra numa boa performance dramática. Apesar disso, a atriz não desempenha um papel mais que “razoável” quando se trata das demandas teatrais, em cenas como as dos surtos psicóticos, em que cada expressão e movimento contam pontos.

A construção imagética da trama dramático-romântica dentro do contexto apocalíptico da ficção científica é de extrema sensibilidade. Considerando que se trata de uma obra em 2D, que conta somente com apelos visuais e sonoros, representar a presença e – principalmente – a perda repentina de sentidos não é tarefa fácil. MacKenzie, porém, desempenha-a com sucesso, usando de técnicas criativas de sequenciação e enquadramento. Cortes de áudio, vídeo embaçado, planos superaproximados, close-ups na boca que mastiga sem sentir gosto, no nariz que inspira sem sentir cheiro, transmitem uma percepção estendida não somente das etapas da “doença” em si, mas principalmente do resultado que elas vão causando gradativamente no modo que as pessoas percebem o mundo e lidam com a vida e as pessoas que lhes restam.

A temática “apocalíptico-epidêmica” conduz a compreensão da trama como romance e como drama, nunca se sobrepondo ou se reduzindo perante o núcleo principal - nesse caso, Susan e Michael. A história do par romântico, porém, não é “egoísta”, superexplorada, alheia aos acontecimentos do mundo que os rodeia. Cenas em sequência nervosa, nas quais personagens sem nome de vários lugares do planeta vão sendo atingidos pela epidemia, guiam a percepção da dimensão do acontecimento como um todo. Essas cenas são, ao mesmo tempo, elemento relevante para compreender a complexidade do momento em que se desenvolve a história de amor.

O jogo com o significado da perda dos sentidos deu origem a uma obra sensível em sua essência. Sentidos do Amor nos distancia de divagações superficiais quanto ao temor de não ver, não ouvir, não sentir gosto ou cheiro, aproximando-nos de reflexões sobre sentimentos mais complexos, como o amor à vida e ao próximo. Profundo, belo e arrepiante. Adorá-lo faz todo o sentido.


Veja o trailer:

sábado, 14 de abril de 2012

Punir agora para educar quando?

A estátua da Iracema Guardiã, localizada na orla turística de Fortaleza e considerada um dos mais significativos cartões postais da cidade, amanheceu depredada no dia 21 de março. As mãos vazias dela foram serradas durante a madrugada. Vazias porque, menos de uma semana antes, o arco que seguravam foi encontrado no chão e levado por agentes da Prefeitura. Sobrou lá uma feia virgem dos lábios de mel para representar o célebre romance do autor cearense, José de Alencar.

Diante de tais casos de depredação, aciona-se a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, que trata de checar o sistema de câmeras de segurança, a fim de identificar e punir os autores da façanha. Mas será que apontar o dedo para quem apareceu nos monitores, tachá-lo de “vândalo imbecil” e o jogar no fundo de uma cela é a melhor forma de construir uma consciência cidadã acerca da importância social e histórico-cultural atrelada ao patrimônio público da cidade?

Segundo o artigo terceiro da Lei Municipal Nº 9347, “compete a todo cidadão preservar o patrimônio histórico-cultural e natural, zelando pela sua proteção e conservação”. E à Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural, órgão que integra a Secretaria de Cultura de Fortaleza, cabe elaborar políticas públicas de educação patrimonial, além de também o preservar e proteger.

O que acontece, porém, é que, numa cidade que dispõe de legislação e equipamentos específicos, além de uma ampla rede de ensino público, ainda falta educar os cidadãos quanto à preservação e ao uso apropriado do patrimônio público. Dizer que aquela estátua está ali só porque chama turista e não é pra “bulir” nela é uma coisa. Explicar a importância da figura de Iracema na cultura da cidade, fazendo referências a passagens da narrativa literária cearense, é outra completamente diferente.

Dispondo de poucas ou nulas campanhas de conscientização e aulas direcionadas nas escolas de ensino fundamental e médio, os fortalezenses, pessoas comuns que vemos e somos, seguem subindo no pedestal de um monumento, arrancando a pintura do banco de um ponto de ônibus, pichando, por diversão, um muro recém pintado. Seguem mal cuidando dos bens públicos que dispõem. A falta não é exclusiva daquele garoto com uma lata de spray na mão, da menina que escreve à caneta seu nome no banco do ônibus, ou mesmo de quem serrou as mãos da Iracema Guardiã. A falta é também – e antes de tudo – de uma administração municipal que se abstém da responsabilidade de mostrar à população as dimensões do valor sociocultural negativo do ato de depredar.

O vândalo – usando do tom devidamente agressivo que o termo demanda – surge da falta de orientação. Identificação e punição dos transgressores se fazem necessárias, mas as autoridades administrativas devem encará-las como medidas posteriores à realização de ações educativas que expliquem à população por que e como zelar pelo patrimônio público da cidade. Para construir uma Fortaleza Bela é imprescindível formar cidadãos conscientes, que possam trabalhar junto às autoridades competentes.

por Beatriz Costa Ribeiro

quinta-feira, 8 de março de 2012

A identidade da mulher nas revistas “Capricho” dos anos 60 e na atual

Capas: Capricho em 2010 e em 1960.
Aproveitando que hoje é o Dia da Mulher, posto aqui um artigo acadêmico sobre a construção da identidade feminina que eu, a Bia e nossa amiga Camila Mont'Alverne escrevemos há algum tempo. Nesse artigo, a gente analisa mais especificamente a construção da identidade da mulher na revista Capricho, comparando algumas edições atuais da revista com edições publicadas nos anos 60. O trabalho foi apresentado em 2011 no Intercom, o Congresso Brasileiro em Ciências da Comunicação.

O artigo na íntegra está disponível no site do Intercom.

Governo do Ceará discute Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres

A Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres do Estado do Ceará, em parceria com a Secretaria Especial da Copa 2014 e do Instituto Maria da Penha, promove hoje (08) solenidade em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. O tema do encontro é o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres e seus resultados no estado do Ceará.

A solenidade, que contará com a presença de Maria da Penha, acontecerá no Auditório Blanchard Girão, no Castelão, a partir das 17h. Logo após a palestra de abertura, Tião Simpatia, repentista, fará show "Mulher de Lei".


O Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres

A violência contra as mulheres ainda é uma realidade freqüente no Brasil. Segundo a Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil 2011, realizada pelo Instituto Avon/Ipsos, seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica e 27% das mulheres entrevistadas declararam já ter sido vítimas.

Lidar com esse problema envolve relações afetivas, projeto de vida, dor, vergonha e humilhação. A adoção de políticas públicas, de caráter universal e acessíveis a todas as mulheres se faz necessária.

Com objetivo de previnir, proteger e garantir os direitos das mulheres em situação de violência, bem como o combater a impunidade dos agressores, o governo federal lançou, em 2008, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres.

Ações nas mais diferentes esferas da vida social estão sendo implementadas, como, por exemplo, na educação, no mundo do trabalho, na saúde, na segurança pública, na assistência social. O Pacto recebeu como recurso inicial R$ 1 bilhão.

As políticas públicas desenvolvidas no Pacto são direcionadas prioritariamente às mulheres rurais, negras e indígenas em situação de violência, em função da dupla ou tripla discriminação a que estão submetidas e em virtude de sua maior vulnerabilidade social.

domingo, 4 de março de 2012

Blog: uma ferramenta para o Jornalismo


O artigo "Blog: uma ferramenta para o Jornalismo", de André Borges, levanta questionamentos relevantes relacionados à consolidação do blog no cenário do jornalismo produzido na atualidade.

O autor opta por descrever uma espécie de cronologia da popularização de tal ferramenta digital, preocupando-se sempre em retratar os argumentos “a favor” e “contra” esse processo e em evidenciar que ainda há grandes questões a se debater acerca do assunto.

O fenômeno dos diários virtuais, ou simplesmente blogs, começou a ganhar impulso a partir dos anos 2000. No começo era mais utilizado por crianças e adolescentes, que, usufruindo da proposta inicial da ferramenta, escreviam desabafos e comentários desconexos sobre seu cotidiano. Mas o fato é que, nos últimos anos, o blog passou a representar uma nova realidade da Literatura e, sobretudo, da Comunicação Social.

Críticas a essa nova forma de se expressar por meios eletrônicos não são poucas. Uma parte dos profissionais mais “tradicionalistas” do jornalismo investe contra o que chamam de falta de técnica no processo da produção jornalística de tal ferramenta: “Falta de organização das notícias, limitação de diversidade de fontes, pouca periodicidade, baixa confiabilidade e ausência de compromissos com o leitor”. De fato, tais argumentos estão perdendo a razão diante da crescente proporção de profissionalização de seus adeptos, incluindo cada dia mais, não só “cidadãos comuns”, mas também profissionais atuantes na própria imprensa tradicional.

Os blogs expressam uma grande fonte de notícias e críticas, vindas de pessoas de qualquer parte do mundo, que desejam e necessitam veicular informações e lançá-las à rede de computadores, ou seja, representam, fatidicamente, o fim da exclusividade do jornalista na veiculação tradicional dos fatos. O cidadão, através de seu blog, atua como um novo elemento na estrutura midiática, por meio de críticas e debates acerca daquelas informações que consome pela “grande mídia”. Assim sendo, o “blogueiro” desenvolve uma linha de raciocínio que tende a personalizar a notícia, por exemplo, de um grande jornal e atrair opiniões semelhantes a sua. Mas um ponto que ainda deve ser debatido é o fato de que, apesar de toda a liberdade de expressão, veiculação e crítica gozada pela sociedade incluída digital, suas discussões são quase exclusivamente pautadas no conteúdo da grande mídia, o que, na realidade, ainda não representa um sinal de que o Jornalismo exercido na sociedade já é incontestavelmente democrático e, acima disso, plural.

O autor discute também a questão dos reflexos da “onda digital” principalmente na imprensa tradicional. A crise dos meios impressos de comunicação, vem se intensificando com a consolidação das novas mídias. Uma conseqüência disso é o fato de a publicidade – que “banca” o jornal – estar se evadindo cada vez mais para as mídias online. Com o decréscimo no número de leitores do formato impresso, a mídia tradicional passou a investir no mundo da notícia via internet, por meio dos conhecidos portais de notícias, e, assim sendo, já dominam o conteúdo jornalístico da web. Mas essa audiência não implica na suficiência do retorno lucrativo para essas empresas de comunicação, que, comparando com aos números anteriores relacionados aos assinantes dos impressos, são preocupantemente baixos.

O desenvolvimento de blogs, além de poder ser uma alternativa lucrativa – se atrelada a pacotes publicitários, divulgação e, acima disso, compromisso com o leitor – para comunicadores profissionais e “potenciais”, representa uma forma de construção da informação cada vez mais heterogênea, autônoma e descentralizada.  Ao mesmo tempo que oferece possibilidade de combate à suposta superficialidade da cobertura jornalística tradicional, cria uma estrutura bem mais dinâmica de estreitamento no relacionamento entre jornais e seus leitores e entre leitores e seus leitores.

André Borges desenvolve seu artigo por meio de uma linguagem simples e objetiva. Ele conclui seu pensamento observando que as relações entre blogs e jornais e entre o blogueiro e a democracia comunicativa ainda são incertas, mas que não há dúvidas de que, usando de suas palavras, “lá estarão milhares de blogs para dar a notícia”.